Bruno Capelas e Igor Müller, apresentadores do 'Programa de Indie' da Rádio Eldorado.

Rádio Eldorado estreia o ‘Programa de Indie’ nesta sexta-feira (07)

Bruno Capelas e Igor Müller selecionam 10 discos para entender a música alternativa

Bruno Capelas e Igor Müller, apresentadores do 'Programa de Indie' da Rádio Eldorado. 

A Eldorado apresenta mais uma novidade em sua programação nesta sexta-feira (07). A partir das 23h, a rádio dos melhores ouvintes estreia o ‘Programa de Indie’, com uma seleção musical com o ‘lado b’ da produção do rock nacional e internacional. Bruno Capelas e Igor Müller são os responsáveis pela apresentação e curadoria do conteúdo desta novidade dos 107,3 FM.

Müller é locutor da Eldorado há onze anos. Atualmente, pilota a programação de segunda a sexta, das 09h30 às 12h. Além disso, é responsável pelo ‘De Tudo um Pop’, quadro que vai ao ar diariamente dentro do programa ‘Fim de Tarde’. Já Capelas é editor do Link, do Estadão, e há um ano apresenta o ‘Hyperlink’ no ‘Fim de Tarde’, sempre às segundas-feiras, às 18h30.

Para marcar a estreia do ‘Programa de Indie’, que vai ao ar toda sexta, às 23h, pedimos para a dupla explicar aos nossos ouvintes o que é música indie. Os apresentadores respondem com uma seleção de dez discos marcantes do rock alternativo.

Dez discos para entender o Alternativo

A música pop havia se divorciado de seu elementar, a capacidade de dar ao povo sua maneira própria de expressão, culpa da ressaca produzida pela megalomania do verão de 1967, com seus gurus, drogas e outras exigências bem pagas por executivos de gravadoras. Para seguir sendo autêntica, essa expressão elementar teve que seguir separada do gosto popular por um bom tempo. Enquanto o gosto popular seguiu as tendências da polidez das produções de gravadoras, um bando de malucos foi resgatar o essencial, aquilo de Scott Joplin à Chuck Berry norteou o caráter explosivo do que se convencionou chamar de rock. Assim nascia o rock alternativo, de iniciativa independente, daí o indie, sustentado pelo signo "Do It Yourself", faça você mesmo.

Aqui mapeamos para você dez momentos que julgamos os mais significativos do rock alternativo.

Velvet Underground – The Velvet Underground & Nico (1967)

Afinações nada convencionais, dissonâncias, ambiências atordoantes contrastando com melodias doces. Viola de arco, um instrumento clássico, se comportando de maneira insistente como num riff de guitarra. Fora de quase tudo o que estava sendo produzido na época, Velvet & Nico rompia de vez com o aceitável sem abandonar inteiramente a estrutura da música pop até então. Uma contradição que venderia muitos poucos discos, mas esses poucos compradores montaram bandas, e fizeram seu som sob suas próprias regras, parafraseando o produtor Brian Eno.

Big Star - #1 Record (1972)

Com o nome inspirado em uma rede de supermercados, o Big Star era um estranho no ninho: fazia rock com riffs e refrões ganchudos, mas gravava por um selo da gravadora negra Stax. Seu primeiro disco, #1 Record, mostra a genialidade da parceria entre Alex Chilton e Chris Bell. Passou despercebido nos anos 1970, mas, redescoberto ao longo das décadas, deu origem a um dos gêneros mais importantes do indie: o power pop.

Television – Marquee Moon (1977)

Os jogos intrincados das guitarras de Richard Lloyd e Tom Verlaine em Marquee Moon, disco de estreia do Television, transbordam inteligência e virtuosidade sem explodir a economia maquinal do punk. Algumas vezes indo até as notas mais agudas (ouviu isso, Peter Hook?), o baixo de Fred Smith pulsa entre a orientação das guitarras e a bateria bem temperada de Billy Ficca. Em um guitar rock de células que se repetem e expandem, Marquee Moon preparou o solo para um dos subgêneros mais importantes da música alternativa, o pós-punk.

The Jesus & Mary Chain – Psychocandy (1985)

Phil Spector criou o “Wall of Sound”, que se valia de muitas camadas sonoras coladas com reverb, para que o registro sonoro preenchesse melhor o som dos rádios e jukeboxes. Já o Jesus usou o princípio para entupir o espectro sonoro com uma massa sonora conturbada e ensurdecedora. No meio desse oceano de distorções e feedbacks, melodias pop irresistíveis que surgem frágeis por entre a multidão barulhenta de guitarras saturadas. Com os olhos encobertos pelas franjas enquanto fitavam as pontas dos sapatos estavam os irmãos Reid, que fundaram o shoegazing, encontro inevitável para os fãs do alternativo: instrumentos barulhentos e melodias assobiáveis.

Sonic Youth – Daydream Nation (1988)

A sensação de urgência que uma juventude inteira sentia pelos anos esmagadores da doutrina Reagan explode no choque entre a sofisticação dos saltos de acordes, afinações incomuns e as passagens minimais da música do Sonic Youth. Daydream Nation não era só a declaração de maioridade da banda, mas também de uma geração que queria fazer diferente. Trazendo mais uma vez Nova York para o epicentro da revolução alternativa, o Sonic Youth ajudou a definir o caráter sonoro do que seria produzido de mais relevante nos anos 90, completando a santíssima trindade do guitar rock noventista ao lado de Pixies e Dinosaur Jr.

Pixies - Doolitlle (1989)

Uma lição básica: músicas que alternam partes ruidosas com outras mais calmas. A dinâmica "loud-quiet-loud" chegou à máxima potência em Doolittle, uma bíblia que muita gente ouviu – a começar por Kurt Cobain, que escreveu "Smells Like Teen Spirit" inspirado no som desse disco. É também o disco que reúne alguns dos maiores hits dos Pixies, como "Here Comes Yor Man", "Monkey Gone to Heaven", "Wave of Mutilation" e "Hey".

Radiohead – Ok Computer (1997)

Nós imaginávamos o fim do milênio com carros voadores, computadores fazendo o trabalho humano e o espaço sideral na ponta dos nossos dedos. No lugar disso vivemos a paranoia, o isolamento social e a falta de otimismo no futuro. Os ingleses do Radiohead captaram bem o espírito do tempo não só em suas letras, mas captando na sua textura sonora, respingando elementos do experimentalismo mais avançado, a temática fundamental da distopia que vivemos no século XXI, a alienação, abrindo caminho para um dos eixos mais relevantes da música que seria produzida no começo dos 2000.

Sigur Rós - Ágætis byrjun (1999)

Magnum opus de uma banda singular, Agaetis Byrjun foi o disco que catapultou o Sigur Rós para o mundo, bem além das geleiras da Islândia. Cantando em sua língua natal e também em um idioma inventado (o hopelandês, criada pelo vocalista Jonsi) e com arranjos que mesclavam influências da música erudita com o melhor do rock barulhento, o disco é cheio de momentos oníricos e surreais – como os "quase-hits" "Starálfur", "Svefn-g-englar" e "Ný batteri".

The Strokes – Is This It (2001)

Nos anos 1990, Nevermind fez o indie descer goela abaixo do mainstream. Dez anos depois, os Strokes fizeram o mesmo com um pouco mais de sutileza com esse disco, Is This It?. Ao saquear o sarcófago de bandas como Television e Velvet Underground, os Strokes escreveram a receita para que milhares de bandas acreditassem ser possível fazer sucesso sem perder a ternura alternativa. "Oh, last nite..."

Wilco – Yankee Hotel Foxtrot (2002)

Em 2000, o Wilco já era uma banda respeitada na mistura entre o rock, o folk e o country. Mas Jeff Tweedy e seus companheiros queriam mais: fazer um disco complexo, como a virada do milênio pedia. O resultado foi Yankee Hotel Foxtrot, um álbum maluco e ao mesmo tempo delicado (perceba a sutileza de "Jesus, Etc."), pop e alternativo na mesma medida – graças à esperta produção de Jim O'Rourke (ex-Sonic Youth). Recusado pela gravadora, foi vazado na web antes de ser lançado de fato por outro selo, em uma espécie de "conto de fadas" indie com final feliz.

Menção honrosa

Pixies – Surfer Rosa (1988)

Nós não conseguíamos nos decidir qual disco dos Pixies merecia entrar nessa seleção. Pensamos em colocar os dois como se fosse um, mas isso seria trapaça. Decidimos por Doolittle pela quantidade de músicas emblemáticas, mas Surfer Rosa merece menção pela sonoridade assinada pelo produtor Steve Albini, que ajudou a definir muito do que viria a ser produzido pelo alternativo.

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